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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

QUEM PODERÁ PERDER OU GANHAR COM OS NOVOS MEDICAMENTOS PARA TRATAMENTO DA HEPATITE C

Quem poderá perder ou ganhar com os novos medicamentos para tratamento da hepatite C


O tratamento da hepatite C incorporou dois novos medicamentos em 2011, os inibidores de proteases Boceprevir e Telaprevir. Se as pesquisas não enfrentarem problemas é provável que nos próximos três anos sete novos medicamentos cheguem ao mercado.

Já em 2014 ou mais tardar em 2015 pode se estimar que quatro medicamentos que se encontram na fase 3 ou em condições a entrar nessa fase deverão estar disponíveis. Entre os que poderão chegar ao mercado podemos citar o DEB025 (Alisporivir), o BMS-790052 (Daclatasvir), o BMS-824383, o TMC435 e o GS-7977. (Ontem a Gilead divulgou que o GS-7977 combinado a ribavirina não se mostrou efetivo no retratamento de pacientes nulos de resposta a um tratamento anterior, mas isso certamente não vai paralisar os estudos).

Outros com boas possibilidades para o tratamento se encontram um pouco atrás na corrida para chegar ao mercado, conforme pesquisas da Roche, da Abbot, Novartis, Merck, Vertex e outras empresas farmacêuticas.

Fica evidente que em curto prazo, no máximo em cinco anos, as perspectivas de cura para os infectados com todos os genótipos da hepatite C são formidáveis, pois estarão disponíveis tratamentos com resposta terapêutica em muitos casos de 100%, com menos efeitos colaterais e com menor duração da terapia. Resultado: Os infectados serão os grandes beneficiados, os grandes ganhadores dessa corrida realizada pelas empresas farmacêuticas em procura de medicamentos a cada dia de maior efetividade.

Já para as empresas o panorama que parece ser fantástico quando se sabe que até 170 milhões de pessoas no mundo estão à espera de tratamentos eficazes, um mercado estimado em dezenas de bilhões de dólares poderá ficar enormemente fracionado devido à concorrência entre os diversos medicamentos. Uma verdadeira guerra de marketing certamente vai acontecer para dominar o mercado. Isso resultará em maior investimento por parte das empresas para divulgar os produtos e ao mesmo tempo vai ocasionar uma redução nos preços, o que poderá afetar os lucros.

Um terceiro panorama que não pode deixar de ser observado é o das empresas de analises do mercado acionário, as quais recomendam aos investidores sobre o futuro do valor das ações e os dividendos que podem ser esperados.

Vamos observar compras e fusões entre as empresas que estão de olho no mercado da hepatite C. A Pharmasset foi adquirida pela Gilead por 11 bilhões de dólares e a Bristol-Myers Squibb comprou Inhibitex por 2,5 bilhões de dólares. Ainda é estimado pelo mercado de investidores que empresas de menor porte como a Achillion e a Idenix deverão ser adquiridas antes do final de 2012.

Pessoalmente posso estimar que o mercado futuro de faturamento com medicamentos para tratamento da hepatite C não é assim tão grande como as empresas e analistas do mercado estão prevendo, pois a estimativa de 170 milhões de infectados não significa na necessidade de tratamento para eles.

Um dado importantíssimo que não está sendo considerado é que no mundo mais de 80% dos infectados ainda nem sequer suspeitam que estejam doentes. Não estão considerando que para poder tratar um paciente o primeiro passo é encontrar o doente. Diagnosticar os infectados poderá levar décadas se os governos continuarem a muito pouco fazer para dar visibilidade às hepatites. Continuar a tratar a hepatite C como a prima pobre da AIDS é esconder o problema abaixo do tapete.

Assim como os infectados serão os grandes ganhadores com os novos medicamentos posso prever que muitos inversores em ações e as próprias empresas farmacêuticas não terão o retorno esperado, sendo esses os grandes perdedores. É necessário enxergar a realidade da epidemia como um todo e não somente pelo número de infectados.

Casualmente hoje recebi um e-mail de uma das mais antigas ativistas pelos direitos dos infectados, protestando sobre a falta de visibilidade das hepatites na campanha de carnaval que o Departamento DST/AIDS/Hepatites está realizando no Brasil, onde a hepatite foi solenemente ignorada (somente após o carnaval será recomendado fazer o teste se alguém praticou sexo sem proteção). A pessoa, corretamente indignada com a falta de campanhas que alertem sobre as hepatites escreveu:


As Hepatites Não Tem Lugar em NENHUM LUGAR a não ser nas promessas que cansamos de ouvir!


E foi essa frase que me fez escrever sobre o futuro dos medicamentos e os tratamentos que estão por chegar. Os novos medicamentos poderão beneficiar muitos poucos infectados se as hepatites não tem o lugar que merecem nas ações do governo.

Carlos Varaldo

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